Depois de espreitar muitas e insistentes veiculação
das cenas de baixarias, de banalização dos corpos vitimados, viventes ou após
seu óbito em programas sensacionalistas, percebo que as pessoas estão com um
medo de ir, de vir e de até conviver com o outro: seja no ônibus ou com a
vizinhança. Esse outro que, cada dia, é visto como mais um estranho, um
potencial risco para nós, até mesmo um parente de segundo grau. Tenho muito
receio do que pode estar sendo construído nos lares bahianos no momento que
seus membros ligam religiosamente seus televisores para assistir os programas
pseudo-jornalísticos no horário que outrora reuníamos para as refeições. Se
pudesse começaria pelo televisor que mãinha acende às 10h00min de segunda a
sexta-feira aguardando não sei o que nos programas “Balanço Geral” e “Se Liga
Bocão”, este só apresenta o povo empobrecido, especialmente os negros, em
situação de constrangimento; expõe essas pessoas cotidianamente, ambos
produzidos e transmitidos pela rede RECOR que, pertence à Igreja Universal do
Reino de Deus, cumpre um papel desinibidor em contraponto ao poder inibidor
exercido pela mesma igreja por meio das suas mídias e atividades religiosas.
Esse fenômeno faz entender Peter Sloterdijk quando
ele diz que o humanismo atual merece atenção, porque é possível que as pessoas
estejam submetidas as influências inibidoras e desinibidoras que, no exemplo da
relação expectadores e os programas da RECOR, visam moldar nossa opinião e,
sobretudo, controlar-nos.
O que podemos fazer reagir contra essa influência
manipuladora? Desligar a TV ou trocar de canal já seria um começo, pois, além
da possibilidade de ver os fatos por outro ângulo, garantíamos a queda da
audiência das emissoras que veiculam programas sensacionalistas que ferem os
princípios fundamentais da Constituição de 1988, O Estatuto da Criança e do
Adolescente e a Declaração Universal do Direitos Humanos, no que referem-se a
dignidade humana, o uso de imagem e o respeito aos valores éticos e sociais da
pessoa e da família e, por consequência,
o não patrocínio do empresariado para tais programas. Ações já realizadas com a
Campanha Quem Financia A Baixaria é Contra a Cidadania, uma iniciativa da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, em parceria
com entidades da sociedade civil, destinada a promover o respeito aos direitos
humanos e à dignidade do cidadão nos programas de televisão.