sexta-feira, 18 de junho de 2010

HÁ LÍNGUAS EM PORTUGUÊS



Análise do filme Língua: Vidas em Português, de Victor Lopes.


O filme “Línguas: Vidas em português” trata do universo em que a língua portuguesa é falada, sonhada, transformada e re-significada por mais de 200 milhões de cidadãos em diversas partes do mundo. Este filme traz depoimentos de personalidades como os escritores José Saramago e João Ubaldo Ribeiro e do cantor Martinho da Vila, entre outros. O diretor do filme, Victor Lopes, é um moçambicano criado em Portugal e radicado há 25 anos no Brasil.

Parafraseando José Saramago digo que o português se espalhou no mundo, se misturou no mundo e, sobretudo, sofreu e sofre as transformações nos lugares aonde são faladas as “línguas em português”. Essa língua portuguesa que aportou de modo imperioso e às vezes amigável em além Portugal, falada e sonhada com muitas variações, é fruto do crescimento de “um filho maior que o pai” como diz Mia Couto.

A língua portuguesa não se esgota no tempo, nem mesmo com os descartes e o desuso ocorridos com as influências das culturas por onde ela transitou e transita hoje. Como assinala Saramago:





“Pensemos que são, no nosso caso, oito séculos de pessoas a falar português e a escrever português. Muita coisa de perdeu, evidentemente, mas aquilo que ficou, aquilo que sobrou, aquilo que os arquivos e as bibliotecas guardam, dava para passar lá a vida inteira, mergulhado na língua portuguesa”. (in Filme Línguas: vidas em português)


A língua portuguesa transita e relaciona-se com outros idiomas e por maneiras variadas de expressar (latim, inglês, chinês, japonês,... nas gírias, na retórica, no canto, no conto, nas literaturas, nos acordes). Com diz Saramago no filme: “Ela se tornou uma língua muito diversa. Falamos a mesma língua, mas ela não é falada da mesma maneira”. Mesmo sendo falada em culturas totalmente diversas é possível reconhecer características que identificam o povo que a fala e influência cultural e social na língua portuguesa. Para João Ubaldo Ribeiro, estaríamos falando o latim até hoje se a língua portuguesa não sofresse mudanças.

As variações percebidas no filme Língua: vidas em português representam a diversidade, a interculturalidade, resultantes do convívio e de empréstimos recíprocos com as outras. Essa diversidade, como assinala Canclini, “(...) não se apresenta somente porque distintos setores da sociedade escolhem se desenvolver de formas diferentes, mas também porque tiveram formas desiguais de acesso aos bens”. (in OIC, 2009, 145)

A fala de Martinho da Vila resume minha percepção do filme de Victor Lopes, citando os elementos abordados nos diversos depoimentos. Assim diz Martinho:

“E hoje eu já andei os continentes todos, mas onde eu gosto mesmo, os países onde eu gosto de trafegar, não sei se é a força da língua, mas são os países de lusofonia. Eu vejo uma identidade entre todos eles. No gosto, no gosto musical, no gosto gastronômico, no gosto literário. (...) Então, é uma coisa assim que a língua portuguesa fez: manteve os países distantes que ficaram muito tempo sem se comunicar praticamente. Essa ligação é muito recente. Agora o mistério é como tudo permaneceu”. (Martinho em Línguas: vidas em português)


De certo, muito poderia ser pontuado: as influências culturais e religiosas, o sentido de tempo e o significado de palavras como futuro. Contudo, afirmo que até então entendo que, com ou sem variação na língua portuguesa, o que se pretende é comunicar-se e comunicar algo sobre nós mesmo.




Referências

LÍNGUA: Vidas em Português. Documentário. Direção de Victor Lopes. Roteiro: Ulysses Nadruz e Victor Lopes. Produção executiva: Renato Pereira e Suely Weller. Co-produção: TV Zero, Sambascope e Costa do Castelo. Elenco: José Saramago, Martinho da Vila, João Ubaldo Ribeiro, Mia Couto, Grupo Madredeus. DVD, 105 min. Brasil, 2004

CANCLINI. Néstor García, Diversidade e direitos na interculturalidade global. Revista Observatório Itaú Cultural / OIC - n. 8 (abr./jul. 2009). – São Paulo, SP: Itaú Cultural, 2009.

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