domingo, 20 de junho de 2010

AMARELO COR DE OURO


O carro branco que encontraram próximo ao local do crime não pertencia a ninguém. Foi o que diziam. Armas não existiam. Corpos não existiam. As testemunhas ainda existem, mas como é de costume o que elas viram não foi nada ou já esqueceram. O passado parece não mais existir. Ali, ao contrário de qualquer outro lugar, as pessoas esqueciam rapidamente tudo o que acontecia. Mas, afinal, que crime foi cometido neste local para que alguns homens e mulheres cravassem uma cruz de aroeira no fim e início desta passagem? Perguntou uma criança que via este feito, sabe-se lá se religioso ou arquitetônico. Ali também se encontrava uma anciã que trajava trapos fedidos alimentando um cão estimado por ela, que ouviu e respondeu à pergunta da criança. Convidando-a para sentar ao seu lado começou a partilhar tudo que guardara na mente. Como se desfiasse os fracos fios dos trapos que vestia, contou sobre os homens e as mulheres que alimentaram os peixes daquele enorme rio e que não tiveram tempo de alimentar seus filhos, que até hoje esperam seus pais em algum lugar. Sem demora, a criança logo encontro o colo daquela senhora que continuou a desfiar a história que presenciara.

- Um dia um povo saiu de sua terra a procura de sustento e veio para cá porque souberam das riquezas que esta terra guarda. De todas a mais valiosa foi o ouro. Acreditava-se que poderiam comprar um lar e garantir o sustento para todos que deixaram em sua terra de origem. O ouro não brilhava mais que a esperança e a simplicidade daqueles corpos tão cheios de vontade de viver. Alguns vieram do nordeste, terra de belas praias e muita seca, onde se reza por chuva e roça o mandacaru. Suas crenças são tão presente quanto suas descrença nas leis e na política. Se voltar para lá de mãos vazia, esse povo terá que receber esmolas em troca dos votos das mãos dos coronéis.

Um comentário:

Unknown disse...

Norberto,que texto lindo parabéns!
Sheila

Sobre A redução da Menor Idade, você prefere...

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